Medicamento Wegovy tem como princípio ativo a semaglutida, que atua nos receptores do cérebro que controlam o apetite, a sensação de saciedade e a fome
Um novo medicamento que conseguiu, em estudos, reduzir em média 17% do peso de pacientes com obesidade ou sobrepeso (com comorbidades) chegará ao Brasil nos próximos meses. O primeiro passo já foi cumprido, na segunda-feira (2), com a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O remédio em questão é o Wegovy, cujo princípio ativo é a semaglutida, o mesmo de outra droga já liberada no país para o tratamento de diabetes tipo 2, o Ozempic. Esse último, todavia, já tem sido prescrito por médicos em caráter off-label (sem indicação em bula) para emagrecer.
A diferença entre o Ozempic e o Wegovy é a dose. O primeiro vem em uma caneta aplicadora de injeção subcutânea com doses de 0,25 mg, 0,5 mg e 1 mg. O uso é uma vez na semana. O tratamento para um mês chega a custar mais de R$ 900.
O Ozempic se tornou, nos últimos anos, um dos dez medicamentos mais vendidos nas farmácias brasileiras, segundo pesquisa da consultoria IQVIA.
O Wegovy, em tese, acaba com o uso off-label do Ozempic, já que foi testado exclusivamente para o tratamento de sobrepeso e obesidade.
O tratamento continua sendo com o uso de injeções semanais de semaglutida. O Wegovy é vendido em cinco tipos de canetas aplicadoras, com doses de 0,25 mg, 0,5 mg, 1 mg, 1,7 mg e 2,4 mg.
O paciente inicia com 0,25 mg (quatro semanas), e as doses são aumentadas gradualmente ao longo de 16 semanas, até a dose de manutenção, que é de 2,4 mg.
A fabricante dos dois medicamentos, a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, faz a seguinte ressalva em seu site voltado ao público dos Estados Unidos, onde o Wegovy já está disponível desde 2021: “Embora Wegovy e Ozempic contenham semaglutida, eles são produtos diferentes, com indicações, dosagens, informações de prescrição, esquemas de titulação etc. diversas. Os produtos não são intercambiáveis”.
A própria Novo Nordisk diz que não faz nenhum tipo de promoção para uso off-label do Ozempic no tratamento de sobrepreso ou obesidade.
Enquanto o Wegovy não chega ao mercado, a única opção disponível é um “primo” dele, o Saxenda, que consiste em injeções diárias de liraglutida.
Uma revisão feita por pesquisadores do Texas em 2016 e publicada na revista Obesity Science & Practice mostrou que quem fez uso de 3 mg do Saxenda perdeu, em média, 6% do peso original (6,4 kg) após 56 semanas.
Indivíduos que utilizaram 1,8 mg perderam uma média de 4,7% do peso (5 kg). O grupo que tomou placebo — substância sem efeito no organismo — emagreceu 2% (2,2 kg).
A quem se destina
A Anvisa definiu que o “Wegovy é indicado como um adjuvante a uma dieta hipocalórica e exercício físico aumentado para controle de peso, incluindo perda e manutenção de peso, em adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) inicial de ≥30 kg/m² (obesidade) ou ≥27 kg/m² a <30 kg/m² (sobrepeso) na presença de pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso; por exemplo, disglicemia (pré-diabetes ou diabetes mellitus tipo 2), hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular”.
Como funciona
O remédio “imita” um hormônio que nosso intestino libera após as refeições e que atua nos receptores do cérebro que controlam o apetite, a sensação de saciedade e a fome, o GLP-1.
“Existe uma região do cérebro chamada hipotálamo, em que a gente tem o centro de controle do apetite. Então, tem centros de fome e saciedade. A semaglutida atua especificamente nesses centros, para aumentar a saciedade e reduzir a fome — por isso os efeitos na redução de peso”, explica a endocrinologista Priscilla Mattar, diretora médida da Novo Nordisk no Brasil.
Perda de peso
Um estudo apresentado à Anvisa pelo fabricante para o registro do medicamento mostra que pacientes que fizeram uso do Wegovy (2,4 mg) durante 68 semanas (um ano e quatro meses) tiveram uma perda média de peso de 17%, em comparação a 2,4% dos participantes que tomaram placebo.
Ainda segundo o fabricante, um em cada três pacientes perdeu 20% do peso corporal, e 83,5% conseguiram uma redução de 5% após o período. Participaram do estudo cerca de 4.500 pessoas em todo o mundo.
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O endocrinologista Fábio Moura, membro da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), considera a aprovação do Wegovy um avanço no aumento das opções de tratamento para a obesidade, mas alerta que ele, por si só, não resolve o problema.
“É o primeiro remédio a superar a barreira de 15% de perda de peso média. Até então, a gente não tinha isso. Mas, nos próximos três, cinco anos, vão vir outros iguais ou até mais potentes que ele. Mas nenhum desses remédios vai dispensar ninguém de praticar atividade física e se alimentar melhor. Não é para quem está precisando perder 1 quilinho ou 2, é para quem tem obesidade ou sobrepeso com alguma doença.”
Fonte: R7.COM