Durante a estiagem que atingiu rios amazônicos, o teleatendimento psicológico prestado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) tem sido fundamental para apoiar pacientes que lidam com o aumento da ansiedade e angústia devido à incerteza do período. Entre os meses de agosto a outubro, a FAS realizou mais de 50 atendimentos psicoterapêuticos, auxiliando no desenvolvimento de estratégias para melhorar a qualidade de vida e a saúde mental de indígenas e ribeirinhos na região.
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Em 2023, a FAS contabilizou 193 teleatendimentos psicológicos, seguidos de 229 neste ano, em comunidades dentro de Unidades de Conservação (UCs). Ou seja, um aumento de 18%. Além disso, entre os meses de agosto e setembro, 30 atendimentos foram registrados, dos quais sete (23%) tiveram como queixa principal os impactos da estiagem. Já entre setembro e outubro, oito atendimentos (33%), dos 24 registrados, destacaram a estiagem severa que afetou o Amazonas neste ano.
As queixas relatadas incluem sintomas de depressão, fobia social, transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), conflitos familiares e conjugais, e luto.
Cristina Maranghello, psicóloga clínica e responsável pelos teleatendimentos, vê que a alteração abrupta na rotina afeta a sensação de segurança e aumenta a imprevisibilidade em relação ao futuro.
“A maior diferença percebida nos relatos antes e durante a estiagem está relacionada à intensificação das preocupações e ao aumento da sensação de vulnerabilidade. Antes da estiagem, as queixas costumavam estar mais relacionadas a “desafios do cotidiano”, comenta.
Com a seca dos rios, os comunitários enfrentam uma queda de renda financeira e se vêem isolados, com muita dificuldade para conseguir itens básicos para subsistência, como água potável, alimentos e medicamentos. O calendário escolar é interrompido, o provisionamento de energia elétrica oscila e os lares passam a ter muitas pessoas reunidas em um período maior, o que favorece a ocorrência de conflitos familiares.
Mickela Souza Costa, gerente do Programa Saúde na Floresta da FAS, destaca que a crescente valorização da saúde mental torna a oferta de psicoterapia via teleatendimento uma iniciativa fundamental. O programa que ela coordena foi criado durante a pandemia de Covid-19 pela instituição, fortalecendo as ações em saúde da FAS e, desde então, vem fazendo um diferencial em comunidades distantes da Amazônia.
“Essa abordagem promove qualidade de vida e ensina técnicas para lidar com sintomas como ansiedade e depressão. Conflitos familiares são comuns nessas comunidades, e a psicoterapia, via telessaúde, ajuda a melhorar o convívio familiar e a resolver essas questões conforme as necessidades de cada família”, diz Costa.
Devido ao forte calor, outro aspecto percebido foi a diminuição da prática de atividades físicas, um recurso extremamente recomendado para equilibrar os hormônios e neurotransmissores, que ajudam no combate à ansiedade e depressão.
Ecoansiedade
Referenciado de forma pioneira pela pesquisadora americana Susan Clayton, o termo “ecoansiedade”, ou “ansiedade climática”, é caracterizado como uma sensação de impotência e desesperança frente às mudanças climáticas que o mundo acompanha. Segundo um estudo publicado na revista científica The Lancet Planetary Health, em 2021, mais de 60% dos jovens entre 16 e 25 anos, no Brasil, se dizem “muito” ou “extremamente preocupados” com as mudanças climáticas.
Embora os termos não tenham critérios diagnósticos definidos pelo DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), da Associação Americana de Psiquiatria, a psicóloga Cristina enfatiza que muitos sintomas estão relacionados a esse fenômeno.
“É evidente que a preocupação com o impacto das mudanças climáticas afeta diretamente a saúde mental dos pacientes, especialmente no contexto de cuja subsistência depende diretamente do equilíbrio ambiental. Essas preocupações são vivenciadas no dia a dia, com consequências concretas e imediatas na Amazônia”, afirma Maranghello.
De acordo com a profissional, as novas informações sobre as mudanças climáticas não podem ser jogadas para “escanteio”. Para transmiti-las com ética e profissionalismo, a orientação é sensibilizar o público através de webpalestras e rodas de conversa, que são instrumentos de reflexão e acolhimento. A abordagem deve abarcar os aspectos realistas e uma perspectiva otimista, como iniciativas que se destacam em prol do meio ambiente.
Para os próximos anos, Cristina Maranghello também indica os passos que as populações tradicionais da Amazônia podem tomar para lidar com o assunto.
“Em primeiro lugar, o acesso ao conhecimento sobre o assunto é fundamental para a autonomia e o senso crítico do problema. Iniciativas para diminuir a pegada ambiental e formas mais sustentáveis de administrar os recursos caseiros são opções que não dão espaço para discursos alarmistas, na mesma medida em que as populações se tornam protagonistas frente às adversidades com resiliência e autonomia. Não podemos deixar de destacar o grande diferencial que é o atendimento psicológico para essa população. Com este acompanhamento os pacientes se tornam mais fortalecidos emocionalmente, frente aos problemas em geral”, finaliza Maranghello.
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Sobre a FAS
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 39 % no desmatamento em áreas atendidas.
Fonte: ASCOM/ FAS
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