O Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, é uma data de celebração e reflexão sobre o papel da mulher na sociedade, especialmente daquelas que desafiam barreiras e constroem novos caminhos. No coração da Amazônia, Cátia Santos, coordenadora de comunicação digital do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), é um exemplo dessa resistência.
+ Leia mais notícias no portal Amazônia Sem Fronteira
Aos 29 anos, a jovem recentemente conquistou uma grande vitória: sua aprovação no Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT), da Universidade de Brasília (UnB), uma das pós-graduações mais disputadas do país. No entanto, sua trajetória até essa conquista foi repleta de desafios.
Nascida na Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes, no Acre — a segunda maior do Brasil —, Cátia sempre soube que suas raízes moldavam sua identidade. Desde cedo, escutava histórias sobre a luta dos seringueiros e o legado de Chico Mendes pela proteção da Floresta Amazônica. Isso não apenas a inspirou, mas também fortaleceu sua convicção de continuar essa luta.
“Tenho inspirações que me motivam todo dia a lutar e resistir. Primeiro, o lugar onde nasci. Segundo, a minha identidade: tenho orgulho de ser extrativista. […]. “Crescer na RESEX Chico Mendes, onde a luta pelos direitos dos povos tradicionais é reconhecida internacionalmente, me fez perceber que eu fazia parte de algo muito maior. Eu sabia que precisava dar continuidade a esse legado”, afirma Cátia.
Seu compromisso com a causa seguiu por vários anos. Em 2022, foi homenageada com o Prêmio Chico Mendes de Resistência, na categoria “Destaque Jovem Extrativista”, com premiação na Semana Chico Mendes, realizada no Acre, por sua contribuição nas redes sociais. Além disso, no ano passado, Cátia foi uma das palestrantes da mesa que abordou o tema “Etnojornalismo e o Papel dos Eco Comunicadores na Mídia Contemporânea”, realizada pela CENARIUM no 19º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Porém, desde a infância, ela também enfrentou dificuldades no acesso à educação. Graduada em Gestão Ambiental, precisou deixar seu território para concluir os ensinos Fundamental e Médio, uma necessidade comum para jovens extrativistas e diferente para quem vive em regiões metropolitanas.
A oferta insuficiente de vagas e colégios, infraestrutura precária, internet limitada, calendário apertado e conteúdo programático não adaptado para as populações tradicionais são componentes de uma educação desigual para as RESEXs amazônicas.
Cátia reitera que o acesso a uma educação digna e de qualidade é uma demanda fundamental para as populações extrativistas. “Sair do território significa enfrentar a dificuldade de estar longe da família e do nosso modo de vida tradicional. A luta por uma educação de qualidade é essencial para garantir dignidade e igualdade para nossa população. Ainda hoje, muitos jovens extrativistas são obrigados a deixar seus territórios para acessar um direito básico. Nós queremos educação de qualidade dentro das Reservas Extrativistas do Brasil”, reforça.
Um novo tempo
No final de 2023, a UnB lançou um edital para a nova turma do MESPT, com um rigoroso processo seletivo que incluiu avaliação de memorial biográfico, pré-projeto de pesquisa, prova oral e teste de competência em leitura de Língua Estrangeira (Espanhol). Com dedicação, Cátia conquistou o primeiro lugar no grupo de Povos e Comunidades Tradicionais e aguarda ansiosamente o início das aulas, previsto para abril.
O interesse pelo mestrado vai além da formação acadêmica. Para ela, o conhecimento é uma ferramenta essencial para fortalecer o movimento extrativista e ampliar a participação da juventude na luta por direitos.
“Ao longo da minha trajetória, percebi que a luta pelos direitos dos povos extrativistas exige não apenas resistência, mas também uma base sólida de conhecimento. Acredito que o mestrado pode me proporcionar esse conhecimento, que é essencial para atuar de maneira mais eficaz, tanto na defesa dos nossos direitos quanto na busca por soluções mais justas para a nossa realidade”, comenta.
A inspiração para seguir esse caminho também veio de Edel Moraes, secretária nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), que já foi uma das diretoras do CNS e tem uma história parecida com a de Cátia. Doutoranda no Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB), Edel incentivou Cátia a ingressar na formação para continuar fortalecendo o movimento extrativista.
“Acredito que minha aprovação pode, sim, inspirar outras pessoas da minha comunidade e do movimento extrativista. Crescer em um território onde as dificuldades são constantes, especialmente no acesso à educação e à formação acadêmica, muitas vezes gera a sensação de que certos caminhos estão fora do nosso alcance. Cursar mestrado, em uma das universidades mais importantes do Brasil, parecia algo longe da minha realidade”, explica.
“Não chego aqui sozinha. Agradeço a todos que me apoiaram e me incentivaram a nunca desistir dos meus sonhos. A nossa resistência e as nossas lutas não podem ser limitadas. O conhecimento é uma ferramenta importante para fortalecer nossa voz, nossa luta, nossos corpos, nossos territórios e nossas reivindicações. Mostrar que é possível alcançar objetivos, mesmo vindo de realidades difíceis, poder abrir portas para ocuparmos espaços que, historicamente, não foram pensados para nós”, finaliza Cátia.
Fonte: ASSESSORIA
👉🏼 Siga o AmSemFronteira no Youtube – bit.ly/43MIy6H
👉🏼 Baixe o APP do AMSF no Google Play – https://bit.ly/3XlNFIR