Especialista explica que atentados semelhantes em escolas podem ter influência de tempo em sites proibidos e aponta soluções
A máscara de caveira usada por um aluno da Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo, que atacou colegas e professores com golpes de faca na manhã desta segunda-feira (27), é a mesma utilizada no massacre em Suzano e do atentado em Aracruz (ES).
A bandana preta com a estampa de caveira desenhada, tampando boca e nariz, é símbolo de supremacistas americanos, além de aparecer em programas de televisão com personagens fictícios, como na série American Horror Story.
Nesta série, um personagem específico chama a atenção: Tate Langdon. Ele é o fantasma de um adolescente que foi morto pela polícia após atacar a escola onde estudava e assasinar diversos alunos.
Para a delegada e diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, Raquel Gallinati, além da influência de personagens fictícios, adolescentes que, por algum motivo, têm o desejo de atingir professores e colegas em escolas, podem, possivelmente, passar muito tempo na deep web, dark web e ‘discords’, que são chats de jogos sem um gerenciador para atos criminosos.
“São, muitas das vezes, vítimas de bullying, pessoas que estão com o psicológico completamente abalado, passam muito tempo nessas redes na internet e sem a supervisão dos pais”, explica.
Outro fator citado pela especialista, é o excesso de informação e ausência de educação e foco para crianças e adolescentes que ainda estão em desenvolvimento. Ela acredita que o massacre de Suzano, ocorrido em 2019, por exemplo, possa ter influenciado até nas características da ação.
“A ausência de castigo e impunidade são fatores que encorajam as práticas de crimes”, ressaltou Gallinati, que também é embaixadora do Intituto Pró Vítima.
Bullying e o impacto no psicológico
No caso ocorrido nesta segunda (27) em uma escola da zona oeste de São Paulo, o autor das facadas, identificado como Guilherme, teria praticado bullying contra um outro estudante. Alunos entrevistados pela Record TV revelaram que, na semana passada, ele tinha xingado um colega de macado e os dois iniciaram uma “briga de socos”.
Na ocasião, a professora morta a facadas por Guilherme, teria separado a briga. O alvo, com quem ele brigou na semana passada, não tinha ido à escola hoje, então o agressor atingiu outros alunos, além de docentes. No ataque, além da professora morta, dois alunos e outros dois professores ficaram feridos.
No atentado ocorrido em Aracruz, no Espírito Santo, quando um adolescente armado invadiu duas escolas em novembro do ano passado, o delegado responsável pelo caso afirmou que os agressores planejaram o ataque após terem sido vítimas de bullying. Quatro pessoas morreram e ao menos 13 ficaram feridas.
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No massacre em Suzano, que teve repercussão mundial, ocorrido Escola Estadual Professor Raul Brasil, o motivo também teria sido bullying. Os dois adolescentes responsáveis pelas oito mortes na unidade de ensino, se mataram após o crime.
“A gente sabe que a história se repete. As pessoas que cometem esses massacres são aquelas que, de certa forma, foram agredidos ou se sentem na intenção de agredir por algum motivo inexplicado”, pontua Raquel Gallinati.
Medidas necessárias
As medidas necessárias para evitar ataques do tipo, segundo a especialista, são “regras para que o bullying deixe de existir de vez nas escolas, além de um efetivo controle e segurança pública nessas unidades de ensino”.
Um complexo multidiscilplinar, envolvendo educação, orientação psicológica e supervisão familiar também são elementos importantes para evitar essas tragédias, segundo a delegada.
“Os pais enviam os filhos para as escolas acreditando que eles estão em um lugar seguro, mas não é isso que estamos vendo. De tempos em tempos, massacres em escolas são noticiados, mas nada de forma efetiva sem sido feito ou solucionado”, completou.
Fonte: R7.COM