Uma jovem de 21 anos, moradora de Taubaté, região do vale do paraíba de São Paulo, foi totalmente curada da endometriose após uma gravidez não planejada. Foram anos sofrendo com a doença e, para ela, a cura ou uma gestação nunca pareceram realidades possíveis de atingir.
Giovana Santos sentia os sintomas da endometriose desde 2015, mas só recebeu o diagnóstico em meados de 2019, quando procurou um médico para entender o que poderia estar causando as fortes dores, desconfortos, ânsias de vômito e até desmaios que ela tinha durante o ciclo menstrual.
“Ele [o médico] me pediu alguns exames, e deu que eu estava com endometriose, cisto no ovário direito e estava com o volume do útero muito aumentado. Ele me disse que eu não poderia engravidar, que eu teria que fazer um tratamento e, mesmo assim, teria uma chance mínima de eu conseguir engravidar, porque meu útero estava muito fora do normal”, lembra a jovem.
Apesar de não ser um sonho naquele momento, Giovana perdeu um pouco as esperanças depois da notícia. A fim de tentar reverter a situação e possibilitar uma possível gestação no futuro, ela resolveu iniciar um tratamento para controlar a doença.
“Antes de eu fazer o tratamento [para poder engravidar] foram pedidos alguns exames e tinha que ficar na lista de espera. Entrava mês, saía mês, e eu ainda continuava na lista de espera. Quando deu um ano e nove meses de espera, eu descobri que estava grávida, em abril de 2021”, conta Giovana.
Depois de uma gravidez de alto risco, diversas ameaças de aborto, um deslocamento de placenta e idas incessantes ao hospital, a jovem conseguiu ter o bebê e, como ela diz, “pude ver meu milagre nos meus braços”.
Logo após o nascimento da criança, que foi batizada de Antonella, Giovana decidiu refazer os exames para avaliar o quadro da endometriose e acabou sendo surpreendida.
“Quando a minha neném nasceu, eu retornei à médica e pedi novos exames para ver como ia ficar, e para fazer o tratamento para diminuir os sintomas da doença. Foram passados alguns exames e eu fiz um ultrassom, que mostrou que eu estava sem nada, meu útero já estava num tamanho normal, eu já não tinha mais cisto, nada que constou no primeiro exame tinha no segundo”, conta a jovem.
Giovana não teve a oportunidade de realizar todos os exames que queria para detalhar precisamente as causas de cada problema, mas o tamanho alterado do útero, por exemplo, de acordo com o membro da diretoria da SBE (Sociedade Brasileira de Endometriose), Patrick Bellelis, poderia ser um indício de adenomiose, uma “prima” da endometriose, que é caracterizada pela infiltração do endométrio nas paredes uterinas.
“São doenças que comumente podem estar juntas. Existem trabalhos mostrando que até 90% das pacientes com endometriose possuem algum grau de adenomiose”, afirma Bellelis.
Os principais sintomas desta condição são cólicas menstruais, dores pélvicas sem relação com a menstruação, dificuldade para engravidar e aumento do fluxo menstrual. Assim como a endometriose, a possível adenomiose também prejudicaria uma tentativa de gravidez e não seria curada do dia para a noite.
“A gravidez iria funcionar como um bloqueio hormonal durante o momento que ela estivesse grávida e no puerpério, enquanto estivesse amamentando, mas a doença continuaria lá”, esclarece o médico.
Independentemente da presença ou não da adenomiose, Bellelis alega que as chances de um quadro de endometriose se curar de forma natural são, em tese, nulas.
“Espontaneamente, nenhuma [chance]. A endometriose não regride espontaneamente e nem com medicações. Quando a gente trata quimicamente a doença, nós temos por objetivo a melhora da qualidade de vida daquela paciente, ou seja, diminuir as dores e tentar estabilizar a endometriose”, explica Bellelis.
E acrescenta: “De jeito nenhum [há uma explicação para a cura]. Na verdade, a gravidez funciona como ‘o uso de um anticoncepcional por nove meses’ – deixaria aquela endometriose ‘adormecida’, mas não curaria. De maneira alguma a gravidez é considerada a cura da endometriose”.
Mesmo sem explicações científicas, para Giovana, a sensação é de alívio.
“Eu me senti liberta, porque era uma coisa que me prendia – todo mês ter que ir para o hospital tomar medicamento na veia e ter aquelas dores fortes. Depois da gestação, quando eu tive, novamente, o ciclo menstrual, eu não tive mais nenhum sintoma, nenhum sangramento fora do normal, não senti nada. Hoje, eu tenho uma vida normal”.
Segundo a jovem, sua filha, agora com oito meses, está superbem, tranquila e é uma criança sorridente.
“Além de ela ser meu milagre, trouxe outro milagre na minha vida, que foi a cura”, comemora.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) caracteriza a endometriose como uma doença crônica que afeta cerca de 10% da população feminina brasileira.
“Apesar de ser considerada uma doença benigna, porque não é um câncer, a endometriose é uma doença de comportamento bastante agressivo e que pode comprometer muito a qualidade de vida das mulheres”, diz Bellelis.
Fonte: R7.COM