Enfermidade neurológica é crônica, mas Brasil tem ao menos 14 tratamentos aprovados que ajudam pacientes a viver bem
A esclerose múltipla, doença que a atriz Guta Stresser revelou ter sido diagnosticada em 2020, foi considerada por muito tempo limitante, uma vez que não existiam medicamentos com alta eficácia para o seu tratamento. A também atriz Claudia Rodrigues vive com o problema, que ela descobriu no ano 2000.
Hoje em dia, a realidade é outra, conforme explica a neurologista Aline MB Matos, do Hospital Santa Paula e especialista em esclerose múltipla. “Já foi uma doença sem esperança, hoje ela não é mais assim. Precisamos desmitificar que a partir de um diagnóstico de esclerose múltipla o paciente vai ficar cadeirante e acamado. Avançamos muito e temos à disposição uma série de tratamentos que interfere o mínimo no dia a dia do paciente.”
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já aprovou ao menos 14 medicamentos contra a doença, sendo que o primeiro foi em 2004. Os tratamentos são oferecidos tanto no SUS (Sistema Único de Saúde), quanto no sistema de saúde suplementar, pelos planos de saúde.
A esclerose múltipla é uma doença crônica e autoimune. “Na esclerose múltipla são danificadas ou destruídas as zonas de mielina – substância que cobre a maioria das fibras nervosas – e as fibras nervosas no cérebro, nervos ópticos e da medula espinhal”, segundo aponta o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento.
Os medicamentos não impedem 100% a degeneração das células do sistema nervoso, todavia, atuam sobre a inflamação e “ajudam a impedir o sistema imunológico de atacar as bainhas de mielina”, aponta o manual.
Mesmo com avanços importantes no tratamento, a neurologista concorda que “têm consequências que não são interessantes” e explica os sintomas: “em geral, os pacientes apresentam um surto neurológico que varia da perda da acuidade visual, sensação de formigamento em partes do corpo, até a sensação de perda de força, descoordenação. Esse surto ou evento agudo que aparece e pode progredir de 48 horas a uma semana, e inicialmente não vai embora”, diz ela.
A intérprete de Bebel de A Grande Família contou em entrevista à revista Veja: “comecei a esquecer palavras bem básicas, como copo e cadeira. Se ficava duas horas parada assistindo a um filme na TV, logo sentia dores musculares. Tinha formigamentos frequentes nos pés e nas mãos, enxaquecas fortíssimas e variações de humor. O pior era um zumbido constante no ouvido.”
O diagnóstico da enfermidade é feito a partir de associação de análise clínica, exame de ressonância magnética de crânio, medula cervical e medula torácica e da coleta o líquido cefalorraquidiano, o liquor da pessoa com suspeita da doença. Guta descobriu após ir a um otorrinolaringologista e fazer os exames de imagem.
Por apresentar sintomas variados, a esclerose múltipla pode ser confundida com outros problemas de saúde. “O mais comum é os pacientes ter um tipo de surto que a gente considera leve e isso ser confundido com um surto de ansiedade. Outra coisa que confunde bastante é que o paciente esteja sofrendo um AVC (acidente vascular cerebral)”, destaca Aline.
Além de remédios, é recomendado que os pacientes diagnosticados desenvolvam atividades que ajudem a neuroplasticidade, que é a capacidade que os neurônios – células do sistema nervoso – têm de se regenerarem.
Entre as atividades estão os exercícios físicos e o estímulo cognitivo. Guta começou a fazer yoga e a fazer palavras cruzadas, para exercitar o cérebro. Mas a médica ressalta que atividades comuns já ajudam na cognição.
“Quanto mais o paciente se expuser às atividades que levam a um esforço mental, ele também vai conseguir o desenvolvimento cognitivo. O paciente que se mantém em leitura frequente, que interage com amigos e familiares tem estímulos diferentes ou que se mantém sempre estudando alguma coisa. Basicamente a orientação intensificar as atividades de leitura e de interação social”, finaliza Aline.
Fonte: R7.COM