“Adoção não é caridade”. A afirmação é do pai solo e jornalista Francisco Eduardo Borges dos Santos, de 44 anos. Ele, que foi adotado quando tinha 5 anos de idade, sempre sonhou em adotar também e agora tem uma linda família com 6 meninos, filhos do coração.
Sim, a história se repetiu e da melhor forma possível, com muito amor e compreensão. “É preciso ter paciência, nem sempre a relação é estável. A adoção não é caridade e é preciso compreender que a criança já vem com uma vivência, muitas vezes marcada por sofrimentos”, disse Francisco.
Quando era pequeno, aos 3 anos de idade, o jornalista foi abandonado pela mãe biológica nas ruas de Perdizes, bairro nobre de São Paulo. Após ser encontrado pela equipe técnica da Febem, ele foi levado para a instituição, onde viveu até ser adotado por um casal aos 5 anos de idade. E ele conheceu tanto amor nessa relação, que também decidiu adotar, quando crescesse.
Como os filhos chegaram
Após um ano na fila, a primeira paternidade solo se tornou uma realidade em 2008, com a chegada de Victor Eduardo, ainda recém-nascido.
Em 2020, após conversar com seu primogênito, de 14 anos, sobre a possibilidade de ter irmãos que o jornalista voltou à fila do Cadastro Nacional de Adoção.
Os irmãos biológicos Gabriel, hoje com 14 anos, e Maikon, de 11 anos, passaram, então, a integrar a família um ano depois.
E no ano passado, em uma busca ativa no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, o jornalista conheceu três irmãos no Espírito Santo que estavam há muitos anos em busca de um lar. Através de uma aproximação por vídeo chamada, os sete descobriram que era hora de Davi, João e Miguel, de 11, 5 e 4 anos respectivamente, integrarem a família Eduardo Borges dos Santos.
Ajuda outros pais
Com tanta experiência, Francisco hoje é voluntário do Grupo de Apoio à Adoção de São Paulo. Ele dá palestras sobre adoção inter-racial e ajuda outros pais.
O pai solo lembra que um dos filhos, o Maikon, chegou na casa da família com medo e vulnerável, situação presenciada na maioria das crianças dos abrigos. O processo de adaptação e ganho de confiança aconteceu apenas quatro meses após a adoção.
“Ganhar a confiança é importante e isso só é possível com apoio dos grupos de adoção, que vão ensinar como agir nas mais diversas situações”, lembrou o pai solo.
Apoio de amigos e familiares
Francisco disse ainda que o fato de ser pai solo fez com que ele enfrentasse olhares machistas. No entanto, ele sempre contou com o auxílio da grande rede de apoio formada por amigos e familiares em todas as etapas de criação dos filhos.
“Meu primeiro filho chegou na minha vida recém-nascido porque eu queria ter a experiência de trocar a fralda, dar a mamadeira. Mas, na maioria dos lugares que eu ia não tinham trocadores nos banheiros masculinos, por exemplo, o que dificultava. A minha rede de apoio é essencial em todo esse processo, inclusive de desconstrução sobre o significado da paternidade solo. Meus filhos são meu sonho realizado”, disse Francisco.
Adoção de meninos pretos
Adotar crianças e jovens pretos é um ato de responsabilidade, na visão de Francisco. Ele lembra que atualmente, entre os menores aptos para a adoção 70,1% são negros (junção de pretos e pardos, segundo o IBGE).
Mas apesar de serem maioria, eles não são os mais procurados pelos adotantes. Do total de famílias, 21% estão dispostas a adotar menores pardos e apenas 4,2%, crianças pretas. A maioria quer filhos brancos.
“Eu tinha o sonho de ser pai de meninos pretos, para auxiliar nas várias maneiras de exercer a masculinidade, ensinando que o homem negro pode ser frágil, chorar, ter medo. Hoje ter os documentos deles com o meu nome e saber que todo o processo de adaptação deu certo é transformador na minha vida”, concluiu.
Fonte: SNB