A 4ª expedição do Barco Hospital São João XXIII, que teve duração de seis dias, obteve um saldo positivo para a comunidade Vila do Jacaré, zona rural do município de Manacapuru (a 68 quilômetros de Manaus). Foram mais de seis mil atendimentos médicos, odontológicos, de enfermagem, exames, cirurgias além de distribuição de kits de medicamentos básicos.
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O Barco Hospital São João XXIII, construído pela Associação e a Fraternidade Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT) e demais instituições, oferece atendimento gratuito, realizado por profissionais voluntários de várias partes do país sob a coordenação do diretor, Frei Alberto e de seu auxiliar Frei Matias.
Embora a unidade de atendimento flutuante seja gerenciada pela igreja católica, os profissionais professam religiões diversas, o que não os impede de atuam em conjunto pelo bem comum. “Todo mundo deixou um pedacinho de si em casa e trouxe consigo a vontade de alcançar alguém, de fazer o melhor para alguém. Todo mundo aqui está se doando. Independente da religião, isso nos aproximou. Estamos em busca de um único propósito: fazer o bem ao próximo”, disse emocionado o cirurgião geral, Stefano Sardini.
Atendimento humanizado
Além do atendimento no barco, os profissionais visitaram as casas dos moradores da comunidade para prestar assistências aqueles que não conseguiam caminhar. Em uma das moradias, a médica geriatra Nielly encontrou um senhor com Parkinson (doença degenerativa), que sentia fortes dores há anos e era tratado apenas com chá porque a família não tinha recurso algum para comprar medicamentos.
“Eu olhei um senhor numa rede, num calor de 40 graus, com quadro forte de dor. A filha tinha dificuldade de dar banho porque o paciente estava endurecido (a doença causa rigidez). Eu fiz um tratamento básico com medicação e ele aliviado, enfim conseguiu dormir. Se a gente escuta o paciente e exerce o nosso melhor, plantamos muitas sementinhas”, relatou a geriatra Nielly Ribeiro com a voz embarcada pela sensação de ter contribuído para o bem-estar do paciente.
Enquanto muitos profissionais encontram a realização pessoal nos ganhos financeiros, a equipe do Barco Hospital São João XXIII encontrou a satisfação no atendimento aos humildes. A pediatra evangélica Thilara Camila devolveu a um pequeno paciente o direito de sonhar.
“Eu atendi um menininho de 11 anos que tem psoríase (doença crônica da pele que se caracteriza por manchas vermelhas ou rosadas cobertas por escamas esbranquiçadas). Ele não vai na escola. A dor nos olhos daquela criança é grande porque ele tem vergonha de tudo. Queria ser atendido por primeiro para ninguém olhar para ele. Tava com boné escondendo o rosto. A mãe estava fazendo um tratamento errado. Eu prescrevi a medicação correta e falei para ele que a doença vai ser controlada. Ele me contou que o sonho da vida dele é aprender a ler e eu disse que ele vai conseguir isso. Para alguns aqui, aprender a ler não é nada, mas para ele é tudo o que deseja”, relatou ao dizer que a experiência no barco ficará marcada para sempre na sua memória.
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A ação benemérita mudou a forma dos profissionais relacionarem-se entre si, gerando um forte elo de ligação. “É possível ter pessoas boas em todas as áreas. A gente esteve junto aqui, cuidando de pessoas que moram numa área dominada pelo tráfico, esquecida pelo poder pública, onde as mulheres não conseguem fazer pré-natal porque não tem exame de sangue. Deus colocou as pessoas certas para dar conta deste atendimento para os mais vulneráveis. A gente fez a nossa parte, nunca vamos esquecer estas pessoas”, disse o clínico Henrique Bassin com voz de choro preso na garganta.
A previsão é de que o Barco Hospital percorra mais de 20 cidades no interior do Amazonas. A expedição já passou por Iranduba, Manaquiri e Novo Airão. Em março, o Barco Hospital segue para Anori e Codajás.