Em artigo publicado na revista científica The Lancet Microbe, cientistas alertam para cepas multirresistentes que se espalharam para vários países nos últimos 30 anos
Um artigo publicado no dia 21 de junho na revista científica The Lancet Microbe mostra que as bactérias que causam a febre tifoide estão cada vez mais resistentes a antibióticos, além de terem se espalhado de maneira acentuada e com frequência por alguns países no últimos 30 anos.
Os principais sintomas são febre, prostração, dor abdominal e exantema róseo (irritação avermelhada na pele).
Esse foi o maior estudo de sequenciamento genético da S. typhi e analisou mais de 7.500 genomas.
“A análise mostra que cepas resistentes de S. typhi se espalharam entre países pelo menos 197 vezes desde 1990. Embora essas cepas tenham ocorrido com mais frequência no sul da Ásia e do sul da Ásia ao sudeste da Ásia, leste e sul da África, elas também foram relatadas no Reino Unido, EUA e Canadá”, dizem os autores do trabalho em comunicado.
O tratamento da febre tifoide envolve o uso de antibióticos como cloranfenicol e trimetoprima/sulfametoxazol.
Também podem ser usados antibióticos da classe dos macrolídeos (o principal exemplo é a azitromicina) e quinolonas (por exemplo, ciprofloxacina).
No trabalho, os pesquisadores classificaram de cepas multirresistentes aquelas que apresentaram características genéticas que se encaixaram na resistência a antibióticos de primeira linha – ampicilina, cloranfenicol e trimetoprima/sulfametoxazol.
Eles também rastrearam a presença de genes que conferem resistência aos macrolídeos e quinolonas, “que estão entre os antibióticos mais importantes para a saúde humana”.
Os resultados foram preocupantes. As mutações genéticas que tornam a S. typhi resistente às quinelonas, por exemplo, espalharam-se pelo menos 94 vezes desde 1990, sendo 97% originárias no sul da Ásia.
Já as mutações resistentes à azitromicina apareceram ao menos sete vezes em um intervalo de 20 anos.
“Em Bangladesh, cepas contendo essas mutações surgiram por volta de 2013 e, desde então, seu tamanho populacional aumentou constantemente”, dizem os autores.
O autor principal do estudo, Jason Andrews, da Universidade Stanford (EUA), alerta para a necessidade de ver o controle da febre tifoide e a resistência a antibióticos em geral como um problema de saúde global.
“A velocidade com que cepas altamente resistentes de S. typhi surgiram e se espalharam nos últimos anos é um motivo real de preocupação e destaca a necessidade de expandir urgentemente a prevenção medidas, especialmente nos países de maior risco”, afirma em comunicado.
Os pesquisadores salientam que o estudo precisaria ter mais abrangência em amostras coletadas em regiões como a África Subsaariana e a Oceania, onde a febre tifoide é endêmica.
“Como os genomas de S. typhi cobrem apenas uma fração de todos os casos de febre tifoide, as estimativas de mutações causadoras de resistência e disseminação internacional são provavelmente subestimadas”, dizem.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que entre 11 milhões e 21 milhões de pessoas adoeçam por causa da febre tifoide em todo o mundo anualmente. Desse total, entre 128 mil e 161 mil morrem.
A doença é mais comum em comunidades sem acesso a água potável e saneamento básico.
“Mesmo quando os sintomas desaparecem, as pessoas ainda podem estar carregando a bactéria da febre tifoide, o que significa que podem espalhá-la para outras pessoas por meio de suas fezes”, salienta a OMS.
Fonte: R7.COM