Al Rayyan — Lionel Messi dá cada vez mais a impressão de que topou com o gênio da lâmpada no deserto arábico, fez um pedido e será prontamente atendido no Catar. Não que ele esteja esperando cair do céu. Longe disso. O jogador eleito sete vezes melhor do mundo trabalha como nunca para se despedir da Copa do Mundo campeão pela primeira vez. A milésima exibição da carreira como profissional, ontem, no Ahmad Bin Ali Stadium, reduziu a três jogos o êxodo do gênio rumo à terra prometida. Autor do primeiro gol da vitória contra a Austrália, ele tem encontro marcado com a Holanda na sexta-feira, às 16h (de Brasília), no Estádio Icônico Lusail pelas quartas de final. Julian Álvarez ampliou o triunfo por 2 x 1 em uma arena pulsante.
No Catar, a Argentina tem lembrado aquelas companhias de circo itinerantes. Desembarca nos estádios da Copa, monta estrutura, convida e transforma o palco da partida em um pedacinho de Buenos Aires. É como se estivesse jogando no Monumental de Núñez ou La Bombonera.
Turbinado por uma torcida confiante no tricampeonato em meio a 36 anos de jejum, o desempenho de Messi na Copa do Catar começa a rivalizar com a genialidade exibida nos gramados do Brasil em 2014. A Argentina tem seis gols nesta edição. A Pulga marcou três e deu uma assistência. Só não balançou a rede contra a Polônia na última rodada da fase de grupos.
A performance também supera patamares divinos. Lá do céu, D10S viu Messi ultrapassá-lo em número de gols na Copa do Mundo. Iniciou a partida contra a Austrália com oito gols. Bastou um lance individual depois de receber a bola do truculento zagueiro Otamendi para vestir a capa de super-herói, carregar a bola rumo à grande área e chutar rasteirinho, cruzado, aos 34 minutos, no canto direito do goleiro australiano Ryan. Foi como uma tacada de sinuca perfeita.
Compactada até então em um sistema tático 4-4-2, a Austrália teve o plano de encaixotar Messi e companhia frustrado. Piorou no segundo tempo. Uma lambança da defesa consolidou o acesso da Argentina às quartas de final. O goleiro Ryan arriscou sair driblando dentro da área, teve a bola roubada por Julian Álvarez e viu o camisa 9 tocá-la mansamente no canto direito, aos 11 minutos do segundo tempo. Pilhada, a torcida localizada atrás da trave dava saltos de canguru tamanha a alegria com o presente antecipado de natal dos australianos.
Aos 19 minutos, Messi prendeu a respiração do público com uma arrancada em alta velocidade, foi passando pelos marcadores como queria e só foi parado pelo bravo Degenek. A plateia finalmente soltou a respiração e gritou o nome do artista: “Messi, Messi, Messi”.
Aplicada, a Austrália diminuiu o placar aos 31 minutos do segundo tempo. Ponto fraco da Argentina, a defesa bateu cabeça. Otamendi afastou parcialmente o perigo que rondava a área, mas Goodwin dominou a bola e chutou com força. Para o azar do goleiro Emiliano Martínez, a bola desviou em Enzo Fernández e entrou. Empolgada, a Austrália quase empatou com um lance ao estilo Messi protagonizado por Behich. O lateral-esquerdo saiu enfileirando marcadores, invadiu a área e foi travado por Lisandro Martínez antes da finalização.
Nos acréscimos, o goleiro Martínez evitou o empate com um senhor milagre na grande área.
Sustos à parte, faltam três jogos para Messi cobrar a realização do pedido feito ao gênio da lâmpada. O próximo obstáculo é uma espécie de revanche para os dois lados. Em 1998, a Holanda eliminou a Argentina nas quartas de final na Copa da França. Há oito anos, os bicampeões desbancaram a Laranja Mecânica nos pênaltis, em São Paulo, e disputaram a final contra a Alemanha.
Foi a Copa em que Messi esteve mais perto de igualar o feito de Maradona. Passou em frente à taça para receber a medalha de prata aos prantos. No país onde quase tudo que reluz é ouro, Messi está perto de ostentar a taça que persegue pela quinta vez na vida.
(Por Marcos Paulo Lima – Enviado especial)
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE