Uma vivência de conhecimento e conexão com a natureza em meio à exuberante Mata Atlântica. Nesta primavera, um “banho de floresta” – prática também conhecida como florestaterapia – espera pelos alunos da rede municipal de ensino de Juquitiba, uma das cidades com maior cobertura vegetal do Estado de São Paulo, a apenas 70 km da capital.
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O projeto teve início na última semana de setembro. Até outubro, mais de 500 estudantes do 4º ao 9º ano do ensino fundamental, além de 130 educadores, passarão pela atividade que une florestaterapia e educação ambiental em uma série de visitas guiadas ao recém-revitalizado Parque Ecológico de Juquitiba. Coordenado pelo Instituto Terra Luminous (ITL) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura, o projeto EcoLab pretende conectar as novas gerações a um dos biomas com maior biodiversidade do planeta, num trecho preservado de Mata Atlântica bem na região central do município.
Serviços ecossistêmicos – O parque se situa às margens do Rio São Lourenço, que integra um dos conjuntos de mananciais hídricos mais importantes para o abastecimento de água do Estado. O Sistema São Lourenço, da Sabesp, é a principal fonte de abastecimento para 2,5 milhões de habitantes das regiões sul e sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo.
“Para ter água boa é preciso preservar a floresta, mas este é apenas um dos inúmeros benefícios que as crianças conseguem perceber ao percorrer uma trilha entre as árvores, aguçando os sentidos e dando atenção a estímulos pouco comuns no seu dia a dia”, explica Glenn Suba, diretor executivo do ITL.
Mostrar a série de benefícios que a floresta em pé oferece aos seres humanos – os chamados serviços ecossistêmicos – é um dos principais objetivos do projeto, iniciado no final do ano passado junto aos alunos de uma escola pública vizinha ao ITL e agora estendido a toda a rede municipal de ensino. “Ao visitar a floresta as crianças se encantam e conseguem compreender a importância de preservar a natureza para garantir coisas boas e essenciais da vida, como o ar que respiramos e a água que bebemos”, diz Glenn.
Banho de floresta – Sistematizado no Japão a partir dos anos 80 e adotado como uma forma efetiva de redução do estresse, o banho de floresta oferece um alívio para o excesso de distrações da vida urbana, ao situar os participantes em meio à sutil diversidade de estímulos e formas de vida que se apresentam num passeio pela mata. Intercalando momentos de orientação e silêncio, a prática permite uma experiência de “reconexão” com a natureza, quando os participantes podem descobrir novos significados para a relação com o ambiente que os cerca, com outros seres vivos e também com sua vida interior.
Para os educadores, além da florestaterapia e da aula ao ar livre sobre a importância das florestas para sustentar a vida humana, a experiência será laboratório em sua formação como educadores ambientais, com a missão de ajudar a preservar a Mata Atlântica em meio a um dos trechos mais ameaçados deste bioma.
Visão de futuro – Juquitiba possui 100% de seu território em área de mananciais protegida pela legislação estadual. A região também é considerada uma Reserva da Biosfera da Unesco e é habitat de espécies ameaçadas, como a onça-pintada, a anta e a palmeira-juçara.
Contudo, embora possua um dos maiores índices de cobertura vegetal de São Paulo, Juquitiba fica entre as últimas no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado, com poucas oportunidades de renda e grande parcela da população em situação de vulnerabilidade. O rápido crescimento urbano, impulsionado pela expansão imobiliária da Grande São Paulo, é uma ameaça às suas áreas verdes, devido ao parcelamento de terras, às ocupações irregulares, ao desmatamento e à exploração predatória dos recursos naturais.
Estas ameaças limitam a capacidade do município de assumir sua vocação natural de prestadora de serviços ecossistêmicos, como o fornecimento de água, a regulação do clima e o turismo de natureza. “O ecoturismo, em particular, tem um enorme potencial para alavancar o desenvolvimento socioeconômico desta região e frear o modelo vigente de exploração imobiliária e dos recursos naturais”, explica Rafael Oliveira, coordenador do projeto EcoLab pelo ITL. “É para cultivar esta visão de futuro entre as gerações mais novas que o projeto nasceu. A proteção das florestas depende delas”.