A obesidade é uma epidemia crescente no Brasil, com mais de 60% da população com sobrepeso ou obesidade, segundo dados do Ministério da Saúde. Com o carnaval se aproximando, muitas pessoas buscam soluções para perder peso rapidamente. Nos últimos anos, o uso da semaglutida ganhou espaço como tratamento clínico para o controle do peso, mas seu uso é contínuo, não deve ser utilizado para perdas de peso rápidas, requer acompanhamento com especialistas e não descarta o tratamento cirúrgico para os casos mais complexos de obesidade.
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A semaglutida é uma medicamento análogo (que mimetiza) a ação de um hormônio produzido pelo intestino, em resposta à alimentação, chamado GLP-1. Assim, ele demonstra ao cérebro uma sensação de saciedade mais precoce, reduz a velocidade de esvaziamento do estômago (o que faz o indivíduo se sentir cheio por mais tempo), auxilia a secreção de insulina pelo pâncreas e reduz a resistência à ação da insulina em outros órgãos, como o fígado.
O medicamento ficou conhecido através do nome “Ozempic”, injeção utilizada para controle do Diabetes Tipo 2 que apresentou o efeito da perda de peso em alguns pacientes que utilizavam doses semanais de 1mg. Foi então que o medicamento passou a ser utilizado como tratamento off label (uso além das indicações previstas em bula), de acordo com a experiência do médico que prescreve. Agora, a Anvisa liberou a semaglutida na dose de 2,4mg sob o nome de “Wegovy” especificamente para este tratamento.
De acordo com a endocrinologista, Dra. Paola Wyatt Brock, do Eco Medical Center, a semaglutida pode ser usada tanto para o tratamento do Diabetes Tipo 2 quanto para a obesidade e ajuda a perder peso a curto prazo, mas não é viável como solução única e não deve ser utilizada para situações específicas como o Carnaval, já que exige um acompanhamento médico.
“Com certeza é uma estratégia muito poderosa, porém, desde que aliada à prática regular de exercício físico adequado e também à reeducação ou reestruturação alimentar. Com isso, é possível que muitos casos não precisem chegar a uma cirurgia bariátrica porque vão estar com esse tratamento muito estruturado”, explica Paola.
No entanto, a endocrinologista não descarta o tratamento cirúrgico como uma importante ferramenta para o controle da obesidade e suas comorbidades e a possibilidade de somar os tratamentos para um controle da doença a longo prazo.
“No caso de não responder a este tratamento, a cirurgia bariátrica pode ser indicada e esses pacientes precisam ser acompanhados periodicamente. Em um segundo momento, caso o paciente não esteja perdendo peso de forma esperada, a medicação é uma possibilidade para auxiliar no tratamento, assim como no caso de pessoas que voltaram a ganhar peso após a cirurgia bariátrica”, reforça a especialista.
Neste sentido, o cirurgião bariátrico, Dr. Alcides Branco, explica que a obesidade é uma doença crônica, não tem cura e o tratamento cirúrgico da obesidade ainda é a ferramenta mais potente e eficaz para a qualidade de vida dos pacientes com obesidade grave e mórbida.
“Esses medicamentos não são uma solução mágica para o emagrecimento, mas sim um auxílio para o controle do peso e melhoria da saúde. A cirurgia bariátrica e metabólica são procedimentos reconhecidos há décadas. Além da perda de peso, o procedimento também auxilia para o controle de doenças metabólicas como o diabetes tipo 2, a hipertensão arterial, reduz problemas cardiovasculares, entre outros benefícios”, reflete Alcides Branco.
Ainda segundo o cirurgião, estudos recentes têm demonstrado efeitos positivos a médio e longo prazo para a qualidade de vida destes pacientes.
“Cerca de 85% dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica e metabólica entram em remissão do diabetes, ou seja, deixam de tomar medicamentos e insulina, já no primeiro ano de pós-operatório. Estudos também demonstram que o procedimento também reduz em 40% o risco de mortalidade por causas cardiovasculares e em 63,1% a doença renal crônica causada pelo diabetes, por exemplo”, explica Branco.
Indicações para tratamento cirúrgico
Entre os critérios de indicação para a cirurgia bariátrica está o Índice de Massa Corporal (IMC) entre 34,9 kg/m² e 40 kg/m² na presença de comorbidades relacionadas ao excesso de peso; acima de 40 kg/m², sem comorbidades; e constatação de “intratabilidade clínica da obesidade” por um endocrinologista.
No caso da cirurgia metabólica, que tem como foco o controle do Diabetes Tipo 2, os critérios são IMC entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m², idade entre 30 e 70 anos, ter diabetes mellitus tipo 2 há menos de 10 anos, indicação cirúrgica feita por endocrinologista e parecer mostrando que o paciente apresentou resistência ao tratamento clínico com antidiabéticos orais e/ou injetáveis, mudanças no estilo de vida e que compareceu ao endocrinologista por no mínimo dois anos.