Conhecida como síndrome da boca seca, a xerostomia é uma doença bucal também chamada de hipossalivação. Além da constante sensação de boca seca, a doença causa desconforto e, se não for tratada adequadamente, pode levar ao desenvolvimento de doenças na cavidade oral ou em outras partes do corpo. Vários estudos indicam a influência de medicamentos que levam a essa condição, mas pesquisas realizadas na Universidade de Rochester, em Nova Iorque, Estados Unidos, demonstram que os chamados medicamentos anticolinérgicos têm grandes possibilidades de agravar o problema.
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Em artigo publicado em março deste ano, pesquisadores da universidade encontraram conexões entre a xerostomia e o uso de medicamentos com propriedades anticolinérgicas – como opioides, antidepressivos, benzodiazepínicos, agentes respiratórios e anti-hipertensivos – , o uso de vários medicamentos ao mesmo tempo e a ocorrência de cáries. Com base em um estudo realizado com 1.298 pacientes com idades entre 18 e 65 anos, os pesquisadores concluíram que os dados indicam a importância de avaliar os sinais clínicos da boca seca e revisar os medicamentos que o paciente está tomando ao tratar problemas dentários, mesmo que a pessoa não seja idosa.
Com mais de 14 anos de experiência na área de Odontologia, o cirurgião dentista e pesquisador André Pedroso explica que os anticolinérgicos são os medicamentos comumente prescritos para uma variedade de condições médicas, incluindo doenças do sistema nervoso central, como a doença de Parkinson, enjoo de movimento, tremores e distúrbios neuropsiquiátricos. Segundo ele, também são usados para tratar condições como cólicas intestinais, bexiga hiperativa, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e algumas condições oculares, como o glaucoma.
O profissional, que é um dos pesquisadores da Universidade de Rochester e participa da terceira fase do estudo, hoje em andamento e liderado pela pesquisadora Szilvia Arany, explica que existem hipóteses de que o uso de medicamentos pode ser um causador da xerostomia, entretanto, o que se está avaliando agora é a influência dos anticolinérgicos na incidência da doença. Além de causar desconforto, a xerostomia pode levar ao surgimento de cáries, danos nas gengivas, problemas para engolir, falar e até ocasionar a perda de dentes.
Dados obtidos pelos pesquisadores mostram que, em 2015, a frequência estimada de boca seca induzida por medicamentos atingia até 12% da população dos Estados Unidos e até 39% da população mundial. “As primeiras fases do estudo já indicam essa relação e agora, na terceira e última fase da investigação, queremos verificar como variações genéticas e certos medicamentos, como os anticolinérgicos, desempenham um papel no desenvolvimento da boca seca”, comenta ele, acrescentando que nesta fase, de testes clínicos, participam pacientes odontológicos entre 45 e 64 anos de idade e que façam uso de ao menos um medicamento que possa causar boca seca.
Segundo o cirurgião dentista e pesquisador, se a relação entre o uso de certos medicamentos e a incidência de xerostomia for comprovada, o protocolo de tratamento de pacientes odontológicos com a doença deverá ser modificado.
“A hipótese do estudo é de que quanto maior for a carga dos medicamentos anticolinérgicos, mais severos serão os efeitos causados pela xerostomia na cavidade oral do indivíduo. Com a comprovação, poderemos planejar melhor a abordagem do tratamento de doenças bucais causadas pela síndrome da boca seca, verificando, em primeiro lugar, quais medicamentos o paciente faz uso, para avaliar como poderemos prevenir o agravamento dessas doenças”, explica André Pedroso.
Outros fatores podem causar a xerostomia ou a síndrome da boca seca
Além do uso de medicamentos, existem outros fatores que podem levar à incidência de xerostomia. Segundo o artigo publicado por pesquisadores da Universidade de Rochester, outros fatores sistêmicos e de risco desempenham um papel no desenvolvimento da doença. Fumantes, comorbidades com efeitos salivares potenciais, como diabetes e apneia do sono também têm tendência a desenvolver a doença.
“Deve-se acrescentar que o estresse é considerado uma possível causa de xerostomia em adultos jovens. Outros mecanismos subjacentes a casos de xerostomia podem incluir efeitos simpatomiméticos, efeitos tópicos de medicamentos inalados, desidratação, vasoconstrição nas glândulas salivares, alterações no equilíbrio de eletrólitos e fluidos e mudanças na composição da saliva”, ressaltaram os pesquisadores no estudo.