Especialistas explicam obstáculos para frear disseminação do vírus; o Ministério da Saúde diz que ampliou capacidade de diagnóstico e aumentou as orientações para profissionais de saúde
O Brasil tem avançado rapidamente no ranking mundial de casos de varíola do macaco e já chega a quase 7.000 casos de infectados, sendo, ao lado de Estados Unidos e Espanha, os únicos países do mundo a superar as 6.000 pessoas doentes.
Dois meses e meio depois da primeira infecção pelo monkeypox registrada no país, as autoridades federais não apresentaram um plano efetivo para combater a disseminação do vírus monkeypox , e o Ministério da Saúde também não declarou estado de emergência, o que dificulta um atuação independente por parte dos estados e municípios.
A demora para agir, segundo especialistas ouvidas pelo R7, aumenta as chances de que a doença se torne endêmica no país, o que significa a não erradicação do vírus — diferentemente do que ocorreu com a varíola humana há 51 anos — e surtos frequentes, assim como ocorre com a dengue, por exemplo.
Para a epidemiologista e professora da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) Ethel Maciel, o governo não agiu a tempo de evitar que o monkeypox se tornasse um problema para o Brasil, não só por não fazer o controle sanitário nas fronteiras do país, como também por não propor uma comunicação informativa com a população.
“O Brasil falhou, da mesma forma que falhamos com a Covid. Parece que aprendemos pouco. Há uma dificuldade de diagnóstico, os testes estão se acumulando, as pessoas têm uma demora para receber o resultado”, afirma Ethel. “É uma situação crítica, nós estamos, infelizmente, deixando a doença se espalhar”, argumenta.
No entanto, apenas no dia 5 de agosto o Ministério da Saúde divulgou o Plano de Contingência Nacional para Monkeypox, um documento de 31 páginas com definições relativas à doença, como sintomas e tratamento, além de tópicos com medidas que a pasta pretende implementar para controlar a situação da varíola do macaco no país.
Entre os tópicos estão: levantar a disponibilidade nos hospitais de referência de leitos de internação com isolamento e leitos de unidade de terapia intensiva — UTI com isolamento para casos graves; e promover capacitações para atualização dos profissionais de saúde para a gestão clínica e laboratorial dos casos.
Para a virologista Camila Malta, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e do Instituto de Medicina Tropical, o documento não pode ser considerado um plano de ação.
“Um plano de contingência não é dizer o que é necessário fazer, mas de que forma eles vão fazer isso, quando vai começar, como vai acontecer os treinamentos. Tem que ser bem direcionado […] não adianta estar em um papel há uma semana e não acontecer. A minha posição é de que nada de concreto foi feito até agora”, afirma.
Em nota enviada ao R7, o Ministério da Saúde afirmou que algumas ações propostas pelo plano já estão em prática, como a ampliação da capacidade de diagnóstico da doença.
Fonte: R7.COM