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Spray de ocitocina é usado para aumentar prazer sexual e promover bem-estar

Spray de ocitocina é usado para aumentar prazer sexual e promover bem-estar

Já pensou se fosse possível instantaneamente melhorar o humor e ter uma sensação de bem estar apenas injetando um medicamento em spray

Maria Tereza Santos
São Paulo, SP

Já pensou se fosse possível instantaneamente melhorar o humor e ter uma sensação de bem estar apenas injetando um medicamento em spray no nariz? Parece a sinopse de um filme de ficção científica, mas na verdade é o que algumas pessoas têm buscado ao utilizar ocitocina, conhecida como “hormônio do amor”, em spray.

Foi o que fez a nutricionista esportiva Larissa Coelho, 37. “Eu ficava irritada muito facilmente e qualquer coisa era um estopim pra mim. Então decidi usar o remédio por conta própria”, relata a paulista que atualmente mora no México.

Coelho conta que, de fato, se sentia muito bem depois de usar o spray, mas acabou desistindo devido à rápida duração e um efeito colateral.

“Era muito bom, só que ardia a cavidade nasal. E piorava ainda mais porque tenho rinite. Resolvi tentar manipular em uma dosagem maior para não ter que ficar usando toda hora. Imagina o quanto ardia? Parecia um maçarico no nariz.”

No entanto, diferente das histórias do cinema, não é recomendado buscar aumento do prazer sexual, promoção do bem-estar, ser mais sociável ou diminuir do estresse com o medicamento, indicado para auxiliar na amamentação. Faltam evidências científicas que comprovem que o spray pode alterar o humor ou promover mais prazer.

A ocitocina, conhecida como o hormônio do amor, é produzida por uma região do cérebro chamada hipotálamo, afirma a ginecologista e obstetra Karla Giusti, do Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’or São Luiz.

“Ela é responsável por promover contrações uterinas, atuando no trabalho de parto e no pós parto, para diminuir o sangramento após o nascimento do bebê e aumentar a liberação de leite materno”, lista a especialista. Além disso, o hormônio também auxilia no metabolismo ósseo, participa do mecanismo do orgasmo, atua em relações sociais e diminui o medo.

É justamente por estar relacionada a essas situações e ser liberada quando estamos perto de alguém que a ocitocina foi apelidada de “hormônio do amor”. Junto com outros neurotransmissores relacionados à sensação de bem-estar, como serotonina, dopamina e endorfina, ela também diminui os níveis de cortisol, que é o causador de estresse e ansiedade.

Devido ao seu efeito no parto e aleitamento, os cientistas desenvolveram uma versão sintética da ocitocina para auxiliar as mulheres que passam por dificuldades nessas ocasiões.

“Quando um trabalho de parto não progride, fazemos uma infusão de ocitocina intravenosa para induzir e ajudar a aumentar as contrações uterinas”, informa o endocrinologista Mauro Antonio Czepielewski, diretor do Departamento de Neuroendocrinologia da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

A versão em spray, por sua vez, é utilizada para auxiliar na amamentação. “Se o aleitamento não acontece do jeito ideal, seja por diminuição da sucção do bebê ou porque o mamilo é invertido, o spray de ocitocina ajuda porque gera pequenas contrações na região para eliminar o leite”, diz Czepielewski.

Apesar de o hormônio em si estar associado ao bem-estar, relações sociais e ao sexo, Czepielewski alega que não há evidências suficientes para recomendar a ocitocina em spray para esses fins.

“Há uma série de questões que não são bem documentadas cientificamente e os benefícios são bastante discutíveis. Tanto que, se você for olhar a bula, nada disso está presente nela. Não existem laboratórios que tenham registrado o medicamento para esses objetivos”, afirma o endocrinologista.

O especialista conta que nas últimas duas décadas, cientistas vêm se debruçando sobre a possibilidade de utilizar a ocitocina em spray para outros objetivos.

Um estudo feito por grupo de cientistas da Universidade de Viena, na Áustria, acompanhou 30 casais cujas parceiras sofriam de transtorno de desejo sexual hipoativo – uma síndrome marcada pela deficiência ou ausência de vontade de fazer sexo – por cinco meses.

Nesse período, as mulheres recebiam uma dose de spray nasal de ocitocina ou placebo 50 minutos antes de terem relações sexuais. Após analisar a percepção tanto delas como dos homens, os cientistas concluíram que o impacto do medicamento e do placebo na qualidade de vida e desempenho sexual foi exatamente o mesmo. Ou seja, não houve benefício em utilizar a ocitocina.

Quando o assunto é a utilização para estimulação psicológica ou social, os resultados são semelhantes.

Um estudo de 2014 feito por universidades da Alemanha, China e Estados Unidos, investigou o efeito da ocitocina em spray no medo.

O experimento com 62 voluntários demonstrou que a droga teria o potencial de diminuir os estímulos de medo mais facilmente, mas que eram necessários mais estudos clínicos para bater o martelo sobre essa possibilidade. Essa é a conclusão da maioria das pesquisas feitas até hoje sobre o efeito da ocitocina sintética em spray no tratamento de transtornos psicológicos.

Uma revisão de estudos mais recente da Universidade La Trobe, na Austrália, mostrou algo similar. Os pesquisadores analisaram 17 trabalhos, que contaram com a participação de 466 pessoas no total, sobre o impacto do medicamento em portadores de transtornos de neurodesenvolvimento, que envolvem disfunções de atenção, memória, interação social, entre outros. Eles afirmam que é difícil tirar conclusões sobre o potencial do remédio e que os resultados ressaltam a necessidade de ensaios clínicos randomizados melhor projetados.

“Embora algumas pessoas possam usá-la para esse fim, não é recomendável pois já existe a ocitocina circulante endógena, gerada pelo próprio corpo”, arremata a ginecologista Giusti.

Além de os benefícios ainda não estarem totalmente esclarecidos, ainda há o risco de sofrer com os efeitos colaterais. Larissa conviveu com um deles: a irritação nasal. Mas este não é o único.

“O uso indiscriminado ou excessivo pode levar a dores de cabeça, taquicardia, náusea, vômito, cólica uterina e eventualmente distúrbios gastrointestinais”, afirma a ginecologista.

“Claro que a quantidade aspirada precisa ser grande, mas temos casos descritos em que a medicação não causou o efeito que o paciente queria e, por isso, ele foi aumentando a dose até começar a sofrer os efeitos colaterais”, complementa o endocrinologista Czepielewski .

A indicação é procurar ajuda profissional se você sofre com algum distúrbio mental ou sexual. Foi o que Larissa fez, depois de receber o diagnóstico de depressão alguns anos depois. “Comecei a me tratar com um psiquiatra e agora estou tomando medicamento. Está dando conta do recado”, finaliza.

Fonte: R7.COM

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