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Contrariando promessas, Lula adota velhas práticas políticas para conseguir apoio no Congresso

Contrariando promessas, Lula adota velhas práticas políticas para conseguir apoio no Congresso

Contrariando promessas, Lula adota velhas práticas políticas para conseguir apoio no Congresso
( Foto: Reprodução )

Mais de R$ 45 bilhões em emendas e sobras do orçamento secreto são usados como moeda de troca pelo governo federal

Contrariando promessas feitas na campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou o terceiro mandato com velhas práticas para obtenção de apoio no Congresso. São mais de R$ 45 bilhões em emendas parlamentares e heranças do fim do orçamento secreto que podem ser usados pelo governo para pressionar senadores e deputados na busca por alianças.

Tratadas pelo petista como o “maior esquema de corrupção da história do país”, as emendas de relator, também conhecidas como orçamento secreto, deixaram mais de R$ 9,8 bilhões de sobra. Após o Supremo Tribunal Federal (STF) considerar a forma de repasse inconstitucional, metade do montante está à disposição do governo.

A ideia é usar o valor para negociar votos dos novos deputados e senadores em propostas de interesse do Executivo. Além disso, também interessa ao governo a retirada de apoio à comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para investigar os atos de 8 de janeiro. A outra metade já foi redistribuída durante a construção da Lei Orçamentária Anual (LOA) e engrossou as emendas parlamentares individuais, que são impositivas, ou seja, o governo é obrigado a liberá-las.

O mesmo ocorre com as emendas de bancada partidária, que também são obrigatórias e, a princípio, não haveria possibilidade de intervenção por parte do Executivo. No entanto, o governo Lula editou uma nova portaria que concentrou nas mãos do ministro Alexandre Padilha, que chefia a Secretaria de Relações Institucionais, o cronograma de liberação das emendas de bancada e das de comissões da Câmara e do Senado.

Com isso, Padilha pode interferir no ritmo do desembolso. São, portanto, mais de R$ 15,5 bilhões cuja distribuição o Executivo não determina, mas decide o momento do repasse.

A nova regra prevista na portaria não se aplica aos compromissos feitos durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). São mais de R$ 20 bilhões em emendas que não foram pagas e que Padilha terá o poder de negociar junto aos presidentes do Congresso o calendário de repasses.

A avaliação de senadores com quem a reportagem conversou é a de que a portaria editada pelo governo Lula é uma nova alternativa para o orçamento secreto, mas tira o poder de articulações internas no Legislativo e as coloca na mão do Planalto.

A estratégia divide opiniões. Enquanto alguns parlamentares afirmam que a medida possibilita negociações, o que é normal do jogo político, outros temem que ela facilite a corrupção e o uso indevido do dinheiro público.

“A negociação com os partidos é feita em qualquer parte do mundo e é isso que dá sustentação ao governo. O que eu entendo é que essa verba precisa ter um fim muito específico, dentro do planejamento do ministério”, afirmou o senador Carlos Viana (Podemos-MG).

O senador governista Paulo Paim (PT-RS) disse desconhecer negociações em cima de liberação de emendas. “Não acredito que isso vá acontecer.” O parlamentar espera uma “visão republicana”, incluindo o repasse de verbas de forma igualitária. “Espero que a gente caminhe nesse sentido”, completou.

Por outro lado, Paim reconheceu que o governo ainda costura apoio no Congresso. “A política é falar, dialogar para construir uma base mais sólida e é isso que o governo está fazendo. Quanto a quem vai assumir cargos, seja de primeiro, segundo ou terceiro escalão, faz parte dessa frente ampla que elegeu o presidente Lula”, completou.

Denúncias

Parlamentares da oposição denunciam o movimento do governo para conseguir apoio no Legislativo. De acordo com parlamentares ouvidos pelo R7, quem mantiver apoio à CPMI dos atos de 8 de janeiro estará de fora da distribuição de R$ 13 milhões em emendas individuais neste ano. Indicações para cargos de segundo e terceiro escalões em estatais e entidades ligadas ao governo também entram na negociação.

De acordo com denúncia do deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS), o governo Lula estaria articulando, só para a retirada de apoio da CPMI, R$ 60 milhões em emendas. “Em confirmando, vou buscar responsabilizar os envolvidos na prática de corrupção ativa e passiva”, disse. A intenção é entrar com uma representação junto à Procuradoria-Geral da República (PGR). 

O deputado federal Zé Trovão (PL-SC) também declarou suposta intimidação dos colegas recém-chegados. “Estão convocando os parlamentares novos até o Palácio do Planalto para intimidá-los. Quem não tirar a assinatura da CPMI não vai receber o dinheiro, que é um direito nosso para levar ao estado”, declarou, na tribuna de imprensa da Câmara.

Segundo Trovão, ele foi um dos convidados para uma reunião. “Eles [governo] têm a cara de pau de querer coagir os novos deputados que chegaram à Casa”, afirmou. 

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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já alertou que o governo precisa negociar com “bom senso”, pois, segundo ele, Lula nem sequer tem uma “base consistente” no Congresso. “Hoje, o governo ainda não tem uma base nem para matérias mais simples, quanto mais para matérias de quórum constitucional”, disse Lira dias após a publicação da portaria.

A estimativa atual é que Lula tenha o apoio de aproximadamente 260 deputados. O número não é suficiente para aprovar uma proposta de emenda à Constituição (PEC), por exemplo, que exige 308 votos.

Fonte: R7.COM

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