Uma única vez eu desmaiei quando vi meu próprio sangue e foi suficiente para que um trauma fosse criado. Um dia cortei meu dedo um enquanto lavava a louça e poucos minutos depois estava estendido no chão enquanto um amigo tentava me socorrer. Desde então, encarar a agulha em exames de rotina ou imaginar que estava sangrando era suficiente para ficar pálido, sentir a vista escurecer e perder as forças.
As notícias sobre os baixos níveis dos bancos de sangue e da falta de doadores no começo de cada ano pareciam ser um chamado para encontrar coragem, mas nunca tomava a iniciativa.
Em um dia ensolarado de folga decidi que precisava tentar. Tomei um café da manhã, mas sem exageros, me troquei, conferi o documento com foto na carteira e estava pronto para ir.
Antes de abrir a porta, calculei o tempo do trajeto até o hospital, somei com o horário que estava saindo de casa e concluí: não vai dar tempo. Imaginei que a equipe de enfermagem estaria próxima do horário de almoço e todo o processo de doação ficaria muito corrido. Eu queria desmaiar sem pressa.
Fui convencido pela minha namorada, que também ia doar sangue para me encorajar, que era só medo, e a tentativa de autossabotagem foi por água abaixo.
Antes da doação
Cheguei ao hospital, peguei minha senha, sentei na sala de espera e comecei a repassar tudo o que tinha feito até aquele momento que poderia me fazer passar mal: comi muito, dormi pouco, não tomei água suficiente…
Espera no centro de doação foi um dos momentos de mais ansiedade
PABLO MARQUES/R7
Fiz o cadastro e fui para a entrevista com a enfermeira Débora Alves Santos. O computador não estava funcionando, e fiquei alguns minutos esperando o problema técnico ser resolvido. A solução foi mudar de sala. Percebi que estava muito nervoso por causa da demora. Tudo indicava que iria passar mal de novo.
Decidi puxar um assunto com a Débora e falamos sobre a pandemia, o movimento de doadores no ano e daí avisei que eu tinha grandes chances de desmaiar durante a doação. Ela explicou em detalhes como seria, contou alguns casos de pessoas que ela conhecia e foi tentando me acalmar.
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Respondi o famoso questionário de doação. As perguntas são pensadas para tentar garantir que o paciente que receberá o sangue não está exposto a nenhum risco. Fez tatuagem recentemente? Faz uso de drogas? Teve relação sexual sem proteção?
A doação
Por ser um dia de semana e perto do horário de almoço, a sala em que fiquei antes de ser chamado estava vazia e aproveitei para tomar um suco e pegar umas bolachas, já que fui orientado que comer alguma coisa doce antes poderia ajudar.
Enquanto não me chamavam, fiquei lendo os recados que pessoas que os doadores escreveram em lousa. Foi bom saber que outras pessoas também ficaram inseguras. Uma até escreveu: “sobrevivi”.
Fonte: R7.COM