Olha que legal! Um caderno de elogios para incentivar e melhorar a autoestima dos alunos. A ideia é da professora Sandra Cristina, que implantou o método há 15 anos em uma escola de Maxaranguape (RN) e até hoje colhe os frutos dessa boa ideia.
Com folha de rascunhos que seriam descartadas e páginas de revistas e jornais antigos, a professora da educação básica Sandra Cristina da Silva Cassiano começou seu projeto. Inspirada no Diário de Elogios, produzido pela Seicho-no-ie, ela criava uma ferramenta que transformaria a visão que os alunos tinham sobre eles mesmos.
Os materiais modestos do caderno de elogios pouco importavam, a essência da iniciativa de Sandra era fazer com que os estudantes se vissem como pessoas especiais que são de fato. “O objetivo era fazer com que eles mesmos se vissem de forma positiva e não apenas repetir palavras bonitas. No início, alguns diziam ‘não professora, eu sou burro, não consigo’. Ficou mais perceptível que precisávamos elevar a autoestima autoconfiança deles”, relembra.
Melhorou desempenho dentro e fora da escola
Com o caderno, a professora mostrou que com palavras positivas e frases afirmativas, os estudantes poderiam descobrir a autoestima o que, com o tempo ela percebeu, melhorou o desempenho e o relacionamento dentro e fora da escola.
Sandra ressalta ainda que caderno mostra como o afeto do aluno para com ele mesmo, da família e entre os colegas de sala e funcionários da escola, atrelado ao conhecimento adquirido nas aulas, pode construir outra visão de vida nos estudantes.
Os alunos internalizam que existe um mundo a se conquistar ao saírem da escola.
“Às vezes os nossos alunos se limitam por conta da realidade difícil em que estão inseridos. Eles acabam acreditando que só porque vivem numa situação periférica ou não tem tantas possibilidades só terão aquilo pela frente. Então quando você trabalha a autoestima deles desde a infância, eles podem se tornar adultos mais confiantes e seguros de si”, destaca a professora que possui vinte anos de carreira na educação, tendo experiência em psicopedagogia clínica e institucional.
Semente plantada
Hoje a professora não atua mais na instituição onde o projeto foi iniciado, o Centro de Educação Integrada de Maracajaú, em Maxaranguape. Mas, como semente plantada em solo fértil dá bons frutos, o caderno segue sendo utilizado como elemento pedagógico da instituição por outros professores que acreditaram no poder transformador dele.
Quando a professora Sandra encontra antigos estudantes, hoje já crescidos, percebe o quanto foi importante na vida deles trabalhar o emocional no ambiente escolar.
“É muito gratificante ouvir deles coisas como ‘professora, a senhora foi importante não só na minha disciplina em sala de aula, mas da minha vida inteira. Eu aprendi a me reconhecer’, eles falam. Isso é para sempre. Eu também tenho mães que ainda têm o caderninho de elogio da época dos meninos pequenos. Então isso é muito emocionante”, conta.
Apaixonada por educação, como ela deixa bem evidente ao falar com entusiasmo sobre o caderno, Sandra conta que se conseguir fazer algo positivo no dia a dia de um aluno já valeu a pena o seu trabalho.
“Sabemos que não vamos conseguir ajudar de todo mundo, mas, assim, a cada ano eu tenho de 30 a 40 alunos. Se eu conseguir entre esses 30 fazer diferente na vida de um, para mim eu já ganhei o ano letivo. Como professora isso para mim já é o auge”, diz ela grata pelo trabalho.
Caderno também transformou a professora
Conhecer o Diário de Elogios, da filosofia japonesa Seicho-no-ie – prega que o poder da gratidão e das palavras positivas podem influenciar em uma vida mais feliz – foi um divisor de águas na vida da professora Sandra.
Praticar o elogio para ela em todas as etapas da sua vida foi primordial para que ela quebrasse barreiras e internas e se aceitasse.
Na infância, conheceu o bullying por parte dos colegas e internalizou que não seria capaz de conquistar muitas coisas. Tinha questões com o corpo e cabelo. Mas, essa Sandra ficou para trás, conseguiu sair de uma realidade dura, se tornou professora e hoje exala autoconfiança e amor próprio por onde passa.
Muito disso, construído a partir da gratidão pela vida. “O que eu percebo na Sandra que passou a praticar o elogio foi a autoconfiança em primeiro lugar. A elevação da autoestima para mim também essencial porque eu não me aceitava. Hoje eu consigo me sentir muito mais completa”, ressalta ela.
Na sua trajetória como professora, levar para as crianças o caderno de elogios por ela se reconhecer e querer o bem deles. “A partir do momento que eu enxergo nas crianças parte de mim, eu vou querer sempre o que é bom para elas porque vai ser bom para mim”, finaliza.
Você pode ajudar a contar a história de Sandra para mais pessoas em exposição interativa
Para valorizar e compartilhar com o mundo projetos educacionais inovadores, com o desenvolvido por Sandra, a exposição interativa e multimídia “Encontro com o Porvir: Trajetórias de educadores que transformam o presente e constroem o futuro” vai apresentar ao público variadas vivências e ideias de professoras e professores que representam o sentido de educar.
O público será incentivado a refletir sobre qual é a educação que queremos para o presente e o futuro. A proposta é mostrar como é possível criar práticas pedagógicas que respeitam os interesses, necessidades, ritmos e tempos de todos os estudantes.
“A exposição nasce para valorizar o trabalho desses professores e mostrar o quanto esses são representativos de tantos outros docentes que existem no país. Vai apresentar como eles conseguem criar experiências inovadoras criativas e significativas para os seus estudantes dentro suas condições, contextos e do que eles têm disponível para trabalhar”, explica Tatiana Klix, diretora do Instituto Porvir.
Idealizador da exposição, o Instituto Porvir há dez mapeia e compartilha referências sobre inovações educacionais de docentes de todo o país. Prevista para acontecer em São Paulo (SP), no segundo semestre de 2022, a exposição trará relatos em vídeo, áudio e fotos, fazendo com que visitantes também interajam com as experiências de aprendizagem e os projetos que foram criados por esses educadores presentes na amostra.
Fonte: SNB