Neste setembro amarelo, é fundamental frisar que a substância é essencial para o cérebro, mas não é a responsável pela doença
Está cada vez mais comum encontrar comentários nas redes sociais que relacionam os quadros depressivos com um baixo nível de serotonina. Entretanto, estudos recentes apontam que esta associação é incorreta, pois a regulação da substância é essencial, mas não a causa da doença.
Uma grande revisão de pesquisas científicas feita por pesquisadores da UCL (University College London) em julho deste ano demonstrou que não há evidências claras que comprovem que níveis baixos de serotonina estão associados à depressão
Durante a pesquisa, os cientistas descobriram que os receptores de serotonina – que atrapalham a liberação da substância – não são maiores em pessoas com depressão, como se convencionou. Na realidade, não houve diferença entre os níveis de receptores em pessoas diagnosticadas com a doença (que estavam tomando ou haviam tomado recentemente antidepressivos) em comparação com aquelas sem quadros depressivos.Durante a pesquisa, os cientistas descobriram que os receptores de serotonina – que atrapalham a liberação da substância – não são maiores em pessoas com depressão, como se convencionou. Na realidade, não houve diferença entre os níveis de receptores em pessoas diagnosticadas com a doença (que estavam tomando ou haviam tomado recentemente antidepressivos) em comparação com aquelas sem quadros depressivos.Além disso, os pesquisadores concluíram que o estresse das situações cotidianas aumentam o risco de desenvolvimento de depre
“Um aspecto interessante nos estudos que examinamos foi quão forte um efeito de eventos adversos da vida teve na depressão, sugerindo que o humor deprimido é uma resposta à vida das pessoas e não pode ser resumido a uma simples equação química”, diz Moncrieff.
A revisão constatou que as principais áreas de pesquisa que ofereciam evidências moderadas ou altas sobre o assunto não mostraram uma relação evidente entre a serotonina e a depressão.
ssão. Sendo assim, quanto mais estressante for a rotina do indivíduo, maior é a probabilidade de ele se tornar depressivo. O achado desmistifica a ideia de que a depressão é meramente uma reação química no cérebro relacionada à serotonina.
Os textos que tinham “resultados consistentes” acerca do aumento da serotonina significar um avanço contra a depressão tiveram indicativos de “certeza muito baixa”, principalmente pela amostra pequena e falta de detalhes sobre o uso de antidepressivos.
“Nossa opinião é que os pacientes não devem ser informados de que a depressão é causada pela baixa serotonina ou por um desequilíbrio químico, e eles não devem ser levados a acreditar que os antidepressivos funcionam visando essas anormalidades não comprovadas. Não entendemos exatamente o que os antidepressivos estão fazendo com o cérebro”, declara Joanna Moncrieff.
Em entrevista ao R7 em maio deste ano, o neuropsiquiatra Marco Antonio Abud, fundador do canal Saúde da Mente, no YouTube, também explicou o motivo desta relação ser considerada falsa.
“A explicação é antiga, errada. Não é a serotonina que causa depressão, é a perda de comunicação entre os neurônios. A serotonina precisa estar em um nível certo, em um local certo, mas ela vai fazer com que os neurônios comecem a mudar e criem raízes, fiquem mais fortes. Isso pode ocorrer em qualquer fase da vida. A depressão é uma doença da neuroplasticidade, não é uma doença química”, informa Abud.
No que diz respeito à neuroplasticidade, o profissional se refere a doença atrapalhar a capacidade da pessoa de criar novas conexões entre os neurônios (sinapses) nas áreas do cérebro responsáveis pelo prazer, concentração e socialização. Os remédios (antidepressivos) atuam para restaurar essas situação de forma mais rápida.
“[O neurocientista Eric] Kandel provou que se você pegar um neurônio, não mudar nada na química dele, não mudar nada no ambiente físico em que ele está, e só der estímulos musicais, por exemplo, ele vai criando novas sinapses, novas conexões. Tudo o que a gente faz, tudo o que a gente pensa, tudo o que sentimos, isso tem tanta importância quanto a química para fazer o nosso cérebro funcionar. A ideia é que a serotonina é um facilitador, mas ela não é a causa [da depressão]”, esclarece o neuropsiquiatra.
Fonte: R7.COM