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Ataque de pânico e arritmia: saiba os riscos dos remédios derivados de anfetamina

Ataque de pânico e arritmia: saiba os riscos dos remédios derivados de anfetamina
( Foto: Reprodução )

Médicos alertam para os perigos associados ao abuso de medicamentos psicoestimulantes, principalmente por quem não tem indicação

O abuso de dois medicamentos destinados a pessoas com TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) por quem não precisa deles pode gerar uma série de problemas psiquiátricos, cardiovasculares e até gástricos.

Tem-se observado no Brasil, nos últimos anos, o aumento da procura por lisdexanfetamina (nome comercial Venvanse) e metilfenidato (nome comercial Ritalina).

São drogas classificadas como psicoestimulantes, que costumam ter um excelente resultado em pacientes com TDAH, mas que muitos que não têm a doença tomam com objetivo de melhorar o desempenho acadêmico ou profissional.

O grande problema, segundo especialistas, é justamente o abuso, seja ele por pessoas que não tomam essas medicações com acompanhamento médico ou que utilizam doses maiores do que as receitadas.

Indivíduos que têm algum quadro de transtorno psiquiátrico podem ter experiências ruins com o uso de Venvanse ou Ritalina, afirma a psiquiatra Carolina Hanna, do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. 

“Em pessoas que já têm um quadro de ansiedade de base, por exemplo, pode piorar a ansiedade. Pode desencadear um número maior de crises de pânico em quem já tem transtorno de pânico. Pode piorar a insônia. Em pacientes bipolares, pode descompensar o humor, induzir ao que a gente chama de virada de humor, levando a pessoa a um episódio de humor que pode ser bem prejudicial”, relata.

Ela acrescenta que pessoas com predisposição podem apresentar quadros de psicose após uso desses remédios.

Os desafios de médicos e pacientes em relação aos psicoestimulantes já surge na hora do diagnóstico, tanto de TDAH quanto dos demais transtornos psiquiátricos. 

“A questão é que muita gente não tem o diagnóstico, seja por não ter acesso ao psiquiatra, porque não tem o diagnóstico certo ou porque não chega a ter um transtorno na vida, são pessoas que têm aquele nível subclínico de sintomas psiquiátrico, mas que, às vezes, induzido por um medicamento o quadro abre”, diz a médica. 

O TDAH, todavia, também tem um diagnóstico difícil por apresentar sintomas que podem se sobrepor aos de outras condições.

Segundo a médica, pacientes que realmente têm hiperatividade são beneficiados da medicação porque ela costuma acalmá-los. O oposto não ocorre com aqueles que não têm o transtorno.

“Na maioria dos outros pacientes, essa medicação traz uma agitação maior, agitação no pensamento, sensação de estar acelerado. É o efeito contrário. Quem não tem o diagnóstico não tem um déficit de dopamina, não tem o que ser corrigido. É simplesmente o excesso de estímulo”, pontua.

O Venvanse e a Ritalina são remédios que estimulam o sistema nervoso central ao aumentar a disponibilidade de um neurotransmissor, a dopamina, e de um hormônio, a noradrenalina.

A dopamina está associada ao aprendizado, podendo conferir algum grau de concentração, mas ela também age no sistema de recompensa do cérebro, o que aumenta o risco de dependência.

“As anfetaminas têm sido alvo de extenso uso abusivo. O abuso pode levar à tolerância e dependência psicológica com diferentes graus de comportamento anormal. Os sintomas de abuso de anfetaminas podem incluir dermatoses, insônia, irritabilidade, hiperatividade, labilidade emocional e psicose. Foram relatados sintomas de abstinência como fadiga e depressão”, diz a bula do Venvanse.

A bula da Ritalina, por sua vez, alerta que “se usado de forma inadequada, este medicamento pode causar dependência”, ao ressaltar que o uso deve ser feito somente por pessoas com diagnóstico de TDAH.

Associações perigosas

A psiquiatra chama atenção para o uso associado deste medicamento a outras substâncias.

“O abuso do psicoestimulante pode predispor também ao aumento do uso de outras substâncias – álcool, drogas ilícitas ou medicações não prescritas. […] É uma pessoa que é impulsiva muitas vezes. O psicoestimulante faz o humor e a ansiedade oscilarem mais. Então, tem um aumento da propensão a beber mais, a ter mais comportamento de risco”, diz Carolina.

É neste contexto de mistura que existem os riscos. Tomar psicoestimulantes com pré-treinos, bebidas energéticas, álcool, com muito café ou qualquer outro estimulante aumenta o risco de problemas cardiovasculares, afirma o cardiologista Alexandre Soeiro, do Hcor.

“Você está juntando ações semelhantes de coisas diferentes e vai realmente causar muito mais efeito colateral do que benefício no uso. Pode realmente ter arritmias cardíacas, picos hipertensivos e, obviamente, sobrecarga do ponto de vista cardiológico”, observa. 

O médico entende que é “obrigatória” a avaliação cardiológica de pacientes que iniciam o tratamento com psicoestimulantes.

“Esses medicamentos são anfetaminas, eles aceleram o metabolismo do corpo, aceleram o ritmo cardíaco e podem causar também o aumento da pressão cardíaca. Por isso, a preocupação com dose excessiva e por isso a preocupação em não administrar isso em pacientes que sejam sabidamente cardiopatas.”

Do ponto de vista cardiovascular, alguns sinais podem servir de alerta de que algo está errado, afirma o médico.

“O remédio é para a pessoa se sentir bem, mas não é para se sentir acelerada. Se sentir palpitações, que o coração está sempre acelerado, frequência cardíaca acima de 100 batimentos por minuto mesmo em repouso, se a pessoa teve um desmaio, se mediu a pressão e ela está elevada, sentiu dor no peito… tem que conversar com o médico que prescreveu para ver se tem algo errado associado ao uso do medicamento ou não.”

Dependência psicológica

Os derivados de anfetamina são muito buscados por pessoas que pretendem melhorar o desempenho profissional. Eles podem proporcionar um nível maior de concentração, mas sobretudo uma sensação de bem-estar, aumento da produtividade e da autoconfiança.

Ocorre que, por serem estimulantes, o indivíduo corre o risco de ter foco excessivo no trabalho e passar a depender do medicamento para realizar as tarefas diárias.

“A gente ensina o paciente a trabalhar, a ter sua produtividade, sentindo o corpo, fazendo as refeições, pequenas pausas, justamente para conseguir levar o trabalho de um jeito menos nocivo. Essa medicação é uma tentativa de robotizar a pessoa, dentro do quadro de abuso. A pessoa meio que se desconecta da possibilidade de sentir aquele dia de trabalho, conseguir ter uma flexibilidade entre concentração e descanso, que é uma coisa preconizada para qualidade de vida”, afirma Carolina Hanna.

A dependência psicológica da medicação ocorre não entre aqueles que experimentaram uma crise de pânico ou aumento da ansiedade, mas entre os que se sentiram bem. Segundo a psiquiatra, essas pessoas passam a ver os psicoestimulantes como algo diretamente relacionado a sua produtividade e ao bem-estar.

“Vai tendo um repertório baseado nesse aumento de produtividade, a pessoa vai deixando de se reconhecer, de entender o próprio limite. Muitas vezes, existe uma dependência psicológica porque quando a pessoa para de usar, ela se sente improdutiva, que ela não é capaz. Abre até quadros de sintomas depressivos logo depois”, revela.

Ainda há outros problemas associados ao abuso dos psicoestimulantes. Um deles envolve a perda do apetite.

De acordo com a médica, as pessoas ficam longos períodos sem comer, o que aumenta o risco de terem problemas gástricos pelo aumento da produção de ácido no estômago.

São remédios que aumentam a ansiedade, outro componente que piora quadros de azia e gastrite, por exemplo.

Fonte: R7.COM

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