Enquanto milhões de brasileiros se preparam para viagens e reuniões sociais, internações avançam e já há reflexo nos óbitos
Dados do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) mostram que a média móvel diária de novos casos nesta semana (cerca de 36 mil) está no patamar mais elevado desde o fim de julho – quando o país passava por um declínio do número de infecções da segunda onda.
Especialistas ressaltam que o número de novos casos certamente está subnotificado, já que muita gente não faz mais exames, e a popularização dos testes caseiros faz com que resultados positivos não sejam notificados aos governos.
Ainda assim, outro indicador é mais fiel para mostrar o avanço da Covid-19 no Brasil neste momento: as internações por Srag (síndrome respiratória aguda grave).
O boletim InfoGripe, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), mais recente alerta para o aumento de internações por complicações respiratórias em todo o país, principalmente entre adultos, sendo a principal causa (76,7% dos casos) a Covid-19.
Para o pesquisador da Fiocruz Leonardo Bastos, os indicadores de internações mostram “a ponta do iceberg, que são os casos graves”.
“Mas talvez sejam mais relevantes, porque é o que pode causar uma superlotação em hospitais. Quando começamos a ver tendência de aumento de hospitalizações, tem que acender um alerta”, afirma.
A epidemiologista e professora da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) Ethel Maciel ressalta o fato de uma grande parcela da população estar sem as doses de reforço da vacina anti-Covid.
“Infelizmente, ainda temos pessoas que não tomaram nenhuma dose de reforço e que acabam estando mais expostas, porque neste momento já sabemos que para se considerar alguém vacinado, precisa-se de pelo menos três doses. O esquema básico [de imunização] mudou com as variantes de preocupação”, observa.
O vacinômetro do Ministério da Saúde mostra que 39,2 milhões de doses de segundo reforço haviam sido aplicadas até 15 de dezembro. O primeiro reforço foi aplicado em 101,9 milhões.
Diante deste cenário, os dois especialistas já adiantam que a Covid-19 deve continuar se disseminando neste fim de ano.
“A gente vai esperar neste Natal e Ano-Novo um aumento de casos. E uma preocupação sempre maior com os nossos mais vulneráveis, os idosos, imunossuprimidos, as pessoas que precisam de uma proteção maior”, complementa Ethel.
Por outro lado, o cenário é mais otimista do que há um ano, diz o pesquisador da Fiocruz. “Não é como no ano passado, quando chegou uma variante completamente nova [Ômicron]. Agora, é uma subvariante da Ômicron, mas continua sendo Ômicron.”
Dados da Rede Genômica Fiocruz mostram que, em novembro deste ano, três subvariantes da Ômicron predominavam no país: BQ.1.1 (34,3%), BA.5.3.1 (14,1%), BQ.1 (14%).
Embora sejam mais transmissíveis, estas subvariantes não se mostraram mais perigosas do que as que que circularam anteriormente.
O pesquisador acrescenta que, normalmente, as curvas de casos de Covid-19 no Brasil duram cerca de oito semanas, entre subida, pico e descida. Se isto se confirmar nesta onda, iniciaríamos o ano em queda, mas esta não é uma garantia.
“Como tem essa movimentação de fim de ano, essa mobilidade de pessoas, eventos com aglomerações, talvez isso estique [a curva de casos e internações] um pouco mais. Uma tendência natural das epidemias são essas ondas que sobem e descem, mas quando ela desce, isso aí é o incerto. Talvez esse movimento de fim de ano faça com que essa queda seja um pouco mais lenta”, pondera Bastos.
Óbitos
O que tem sido observado desde a onda do meio do ano no Brasil é que as vítimas da Covid-19 voltaram a ser majoritariamente os idosos e pessoas com alguma imunossupressão.
Mesmo com esquema vacinal completo, esses indivíduos não desenvolvem a mesma resposta imunológica contra o vírus em relação aos adultos saudáveis, por exemplo.
Entretanto, alguns adultos com esquema vacinal incompleto também estão sujeitos a complicações causadas pela Covid-19.
Bastos ressalta que tem sido observado, embora em menor número, aumento do número de internações de pessoas entre 40 e 60 anos. “O número é um pouco menor, mas aquela tendência de subida está ali.”
A média diária de mortes pela doença voltou a ficar acima de cem nesta semana, após três meses abaixo desse patamar, segundo o Conass.
As vacinas bivalentes, que oferecem um nível de proteção maior contra a Ômicron, começaram a chegar ao Brasil nesta semana, mas em quantitativo ainda baixo e sem previsão de quando devem começar a ser aplicadas.
A professora da Ufes entende que os idosos e imunossuprimidos devem ser priorizados.
“Seria, sim, muito importante que a gente começasse a vacinar o público de idosos e grupos de risco, principalmente pensando nessas festas de fim de ano.”
Medidas de prevenção
O alerta do aumento de hospitalizações nas últimas semanas serviu para que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinasse a volta da obrigatoriedade do uso de máscaras em aviões e aeroportos.
Em São Paulo, a proteção facial também passou a ser exigida de quem anda no transporte público.
Porém, a percepção da necessidade do uso se torna cada vez mais individual, afirma Ethel Maciel.
“A gente não tem uma determinação para uso de máscaras, as nossas medidas inexistem. Então, é difícil que nós tenhamos, pelo menos até o final deste governo, uma medida mais efetiva neste sentido. É importante alertar as pessoas para que sempre quando forem viajar, temos a obrigatoriedade nos aviões, mas não em ônibus, por exemplo. Utilize máscara, porque é um local fechado em que você vai ficar muito tempo.”
Ela reforça a importância de optar, sempre que possível por máscaras com alta capacidade de filtragem, como as PFF2/N95 ou as cirúrgicas (com três camadas).
Fonte: AGÊNCIA BRASIL