O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), fez um levantamento com sua base de certificados ativos, que somam 1.172 pessoas, e identificou que a média de idade é de 57 anos. Apesar disso, o mercado está se expandindo, com oportunidades para jovens profissionais e mulheres, sobretudo em empresas que valorizam a inclusão e a inovação.
Com o aumento da conscientização dos empreendedores no Brasil sobre a importância da profissionalização da gestão e das boas práticas de governança corporativa, a carreira de conselheiro de empresas tem atraído um número crescente de profissionais de diferentes áreas. A função vai muito além de um simples status no LinkedIn. Ela exige um histórico profissional consolidado, além de habilidades estratégicas e especializadas em processos decisórios.
Algumas características são fundamentais para o profissional que deseja ter sucesso e desenvolver-se nesse universo. Pedro Luis Muschitz, autor do livro “Governança Ágil”, atualmente conselheiro em cinco grupos empresariais e que já contribuiu significativamente em mais de 300 projetos estratégicos e na implantação de conselhos em mais de 50 empresas, listou 6 dicas para ingressar nesse mercado e se destacar na área.
1. Construir uma base sólida de experiência
A experiência executiva ou empreendedora é um dos pilares para quem deseja atuar como conselheiro. Profissionais com trajetória em cargos de liderança, visão estratégica, conhecimento em finanças e habilidade para resolver crises são os mais valorizados. “Conselheiros precisam ter uma visão ampla e ambidestra, olhar para o futuro orientando um plano estratégico, mas também orientar executivos como entregarem resultados no presente”, afirma Muschitz.
2. Investir em especialização e mentoria
Embora não haja uma graduação específica, cursos voltados para governança corporativa, gestão de riscos e conselhos de administração são indispensáveis para quem deseja ingressar nesse campo. Instituições renomadas como o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e a Fundação Dom Cabral (FDC) oferecem programas estruturados, que incluem módulos práticos e teóricos. Além de certificações, programa de mentorias com conselheiros experientes podem fazer novos conselheiros ganharem anos de carreira, aprendendo na prática com cases reais e tendo alguém para se aconselhar em situações desafiadoras: “A certificação é um diferencial competitivo no ramo, ter mentores é uma chave para o sucesso”, reforça o especialista.
3. Elaborar um currículo focado
O currículo para conselheiros deve evidenciar conhecimento técnico em finanças, processo decisório, assim como competências como liderança, mentalidade analítica, escuta ativa e habilidades de mediação. Além disso, incluir formações específicas e resultados obtidos em posições anteriores ou já ter empreendido aumenta as chances de ser considerado para a posição. Agora, mais do que ter um currículo bem-apresentado, um conselheiro precisa aderir ao “Lifelong learning” para estar constantemente atualizado das tendências, ferramentas e modelos de gestão e governança corporativa, ainda mais agora com a velocidade da IA em todas as áreas e setor, conhecer de IA se tornou necessário.
4. Ampliar a rede de contatos
Construir uma rede sólida de contatos é essencial para quem deseja se tornar um conselheiro. Participar de eventos, fóruns e comunidades focadas em governança é fundamental para abrir portas e criar conexões valiosas com empresas em busca de profissionais qualificados para seus conselhos. Adotar a mentalidade do “givers gain”, onde ajudar os outros e oferecer suporte sem esperar nada em troca, pode acelerar a formação de conexões genuínas e valiosas.
5. Preparar-se para atuar em equipe
O trabalho em conselhos requer habilidades interpessoais refinadas, como escuta ativa, inteligência emocional e capacidade de mediação. As decisões são sempre coletivas, tornando a colaboração entre conselheiros e a diretoria essencial para o sucesso da organização. Desenvolver habilidades de relacionamento com colegas e executivos da empresa é crucial para garantir que as orientações dos conselheiros sejam adotadas efetivamente.
6. Cobrar o valor adequado ao projeto e sua experiência
As remunerações para conselhos consultivos podem variar bastante, situando-se entre R$ 7 mil e R$ 15 mil mensais para aproximadamente 10 horas de dedicação por mês, e segundo matéria da InvestNews, alcançando até R$ 80 mil mensais em conselhos de administração de grandes companhias. No entanto, assim como em qualquer carreira, é importante que o valor cobrado esteja alinhado com o porte da organização, o nível de desafio do projeto e a experiência do conselheiro. Considerar realizar os primeiros projetos de forma pro bono pode ser estratégico, permitindo acumular casos de sucesso iniciais que poderão desencadear recomendações para futuros projetos remunerados.
Pedro Muschitz, por exemplo, assumiu posições como Presidente de Conselhos com foco em inovação com apenas 31 anos. Henrique Dubugras, fundador da Pagar-me, acumulou experiência e reputação antes de integrar o conselho do Mercado Livre com apenas 24 anos e Louise Barsi, a mais nova conselheira hoje de empresas de capital aberto, começou em 2016, aos 21 anos, ocupando um assento no conselho fiscal da indústria química Unipar Carbocloro.
No contexto global, em países como os Estados Unidos, por exemplo, é normal o presidente de uma companhia acumular cargos como o de conselheiro. No Brasil, nem tanto. “Isso configura conflito de interesses na grande maioria das vezes”, afirma Pedro. Segundo o IBGC, cerca de 70% das companhias que têm conselho separam os cargos, o que abre mais oportunidades para conselheiros independentes.
Para quem busca uma carreira com impacto e desafios estratégicos, o papel de conselheiro aponta como uma carreira a ser considerada, contudo, mais do que isso, oferece a oportunidade de contribuir para o crescimento sustentável das organizações. A posição de conselheiro empresarial é uma oportunidade para unir experiência, propósito e impacto. “Essa é uma área onde a tomada de decisões estratégicas tem o poder de transformar negócios e moldar o futuro do mercado”, conclui Pedro Muschitz.